top of page

Kokoro, de Natsume Sôseki

  • Writer: Marina Borges
    Marina Borges
  • Jun 16, 2024
  • 3 min read

Kokoro, de Natsume Sôseki

Kokoro foi uma das últimas obras de Natsume Sôseki, um dos principais expoentes da literatura japonesa. O romance se passa no Japão do fim do período Meiji – o primeiro de três impérios do Japão, que foi de 1868 a 1912, e significou o fim do período feudal no país (Toda Matéria, 2017). Nesse contexto, Sôseki nos conta a história do encontro entre um jovem que vai cursar faculdade em Tóquio e um homem que ele chama de professor. Assim, emerge um enredo repleto de reflexões sobre o coração humano. Esse enredo nos faz questionar os efeitos da sociedade industrial nas nossas relações com as pessoas. Além disso, a natureza está presente da forma mais poética em cada cena pintada neste livro.

A imagem metafórica

Quando se pensa em Kokoro, a imagem que vem à mente é a metáfora do lago. Na superfície, é calmo, mas na profundidade é imenso e denso. Exige que ajustemos os olhos para enxergar o que não está à vista, embora esteja a um palmo do nosso nariz. Kokoro é um livro suave, delicado e leve como uma pétala. Seu ritmo é gentil e há um silêncio no ar.

Entretanto, nas profundidades, há um turbilhão que nos faz rodopiar. Questionamos quem somos, qual a distância entre o que falamos e o que fazemos. Além disso, nos perguntamos que tipo de relações construímos com as pessoas. A principal impressão é que o livro reflete sobre um tempo em que a modernidade invade as vidas e as relações. Nesse momento, acentuam-se as contraposições entre razão e coração, confiança e desconfiança, honra e vantagem. Durante este momento histórico do Japão, que atravessa o fim da era Meiji, o narrador – em primeira pessoa, na voz de um estudante da faculdade – conhece o homem a quem chama de professor, na promissora cidade de Tóquio.

O professor

O professor parece uma boa metáfora para a razão. Ele representa a ideia de que tudo pode ser solucionado com respostas pragmáticas e cálculo. Além disso, este personagem traz em si o elemento da solidão, tão presente nas sociedades modernas. Calado e misterioso, o professor é como um guia para este jovem. Contudo, suas direções são incertas. Além disso, há também a figura da família, com a mãe, os irmãos e o pai do jovem, que está em seus últimos dias. Porém, o protagonista está tão envolvido com o professor (ou o progresso?), que se desconecta de suas raízes. Este jogo de oposições que o autor nos propõe são como iscas que vamos colhendo e que nos levam a uma rua sem saída – a morte do professor. E assim, a pergunta que fica é pertinente ainda hoje: quem nós chamamos de mestre, afinal? A razão ou o coração?

No caminho da razão, surgem temas como a ansiedade, a desconfiança, a solidão e até mesmo o suicídio. Essa forma de nos relacionarmos envolve fazer cálculos e buscar vantagens, ainda que tenhamos que colocar o coração de lado. O jovem do livro parece estar seguindo este caminho. Porém, ao final, com a carta-confissão do professor, uma nova claridade entra no lago. Dessa maneira, há a chance para que ele enxergue além. E nós, também.

Conclusão

Portanto, Kokoro é um livro para ler com o coração e, ao mesmo tempo, usar a razão para nos questionarmos. No entanto, também é um livro que nos permite usar a razão para sentir a leveza de suas páginas, do seu silêncio e da sua sutileza. Crítico e sensível aos perigos de um mundo guiado pela vantagem e pelo lucro, a competição e a inveja, é impossível não se reconhecer naquelas páginas e não se perguntar a quem estamos chamando de professor ainda hoje.

Referências bibliográficas:

https://www.todamateria.com.br/era-meiji/ SOSEKI. Natsume. Coração . LeBooks Editora. 1ª edição. 2020. TAKEDA. Chika. Machado e Soseki in: Revista Brasileira. Fase VII. Ano XIV. Nº 55. Abril, Maio e Junho de 2008.

Comments


bottom of page